11 de maio de 2024
Imóveis mais compactos, sem vaga de garagem, com alta tecnologia e preocupação com sustentabilidade. Essas são apenas algumas das mudanças que a chegada da geração Z tem causado no mercado imobiliário. Apesar da fama de desprendidos ou desapegados desses jovens, 37% deles desejam adquirir casa própria, de acordo com uma pesquisa da Brain Inteligência Estratégica, feita no final de 2023. Na geração millennial (dos nascidos de 1981 a 1995), esse número é de 32%.
E, se o poder de compra dessas gerações é muito menor do que quando seus pais compraram o próprio imóvel, o mercado se adapta. Não à toa, brotam cada vez mais nas grandes cidades canteiros de obras de estúdios ou unidades do tipo quarto e sala. São apartamentos de 15m² até 23m², como conta Leandro Carozzo, CEO da Carozzo Desenvolvimento Imobiliário. Segundo ele, para esses jovens, liberdade é a palavra chave.
“Eles não querem criar raízes definitivas, querem poder ir e vir, estar em vários lugares. Por isso, não buscam casas ou apartamentos grandes.”
Em Salvador, um desses empreendimentos está em construção na Barra, o Porto Privilege, uma parceria da Carozzo com a Housi, uma imobiliária que trabalha com aluguel por assinatura e, por isso, tem experiência no que agrada os novos clientes.
“São pessoas que fazem home office, cuidam da saúde e da alimentação e querem ter tudo à mão. Por isso, são importantes no condomínio espaços como coworking e um grab and go [máquinas de autovenda repletas de opções de comida saudável]”, comenta Carozzo.
Em edifícios como o Porto Privilege, além dessas comodidades, os moradores contarão com pet place (já que é mais comum que essas gerações tenham animais de estimação em vez de crianças), lavanderia comum, anfiteatros para pequenas reuniões sociais e até bicicletas elétricas e salas para gravar podcasts. Afinal, hoje em dia, quase todo mundo produz conteúdo nas redes. Como essas gerações estão muito acostumadas a usar carros por aplicativo – sete a cada 10 jovens da geração Z não têm como prioridade possuir um automóvel – as garagens perdem lugar e a prioridade passa a ser uma localização privilegiada na cidade.
“Queremos estar perto de onde trabalhamos, perto de onde se diverte, perto dos amigos, confortável de modo geral. Essa coisa da localização é muito importante, talvez seja o ponto principal”, confirma o arquiteto Gustavo Scaramella. Ele diz que outra mudança no mercado é o conceito retrofit, a apropriação de prédios que têm um apelo histórico e estético e que, muitas vezes, estão nos centros das cidades. “É um movimento de tomada desses bairros, porque você tem tudo perto. Além disso, os imóveis mais antigos têm mais qualidade, mesmo os mais enxutos em tamanho”.
Scaramella também pontua que, se as áreas comuns dos condomínios são muito importantes para pessoas mais velhas ou em família, os mais jovens não querem ficar na piscina ou na quadra de esportes de casa. Eles preferem sair e viver a cidade. “Para esse público, as áreas comuns servem mais como apoio do que para convívio social. Eles preferem contar com uma boa lavanderia ou um coworking”, diz.
Outra clara prioridade é a sustentabilidade no próprio conceito do imóvel e do condomínio. “Os mais jovens não querem apenas possuir uma propriedade, mas estão preocupados em como esse imóvel pode melhorar sua qualidade de vida. Assim, além da acessibilidade e comodidade, a sustentabilidade é um dos fatores que interferem nas decisões de compra”, avalia Carozzo.
Segundo ele, há uma preocupação maior com todo o ecossistema do empreendimento, desde as relações sociais, de serviços, segurança, bem como o impacto ambiental de suas escolhas. “Isso impulsiona a demanda por construções integradas, conectadas, onde as pessoas possam se relacionar, fazer negócios, ter acesso a serviços com alta tecnologia, além de espaços verdes, bairros ecológicos e soluções habitacionais inovadoras e que minimizem o impacto no meio ambiente.”
Projetos de decoração
As preferências dos gen-Z e millennials alteram também os projetos de decoração e paisagismo. Alex Sá Gomes, profissional desta última área, conta que tem usado cada vez mais plantas cuja principal característica é a resistência, que não exigem muita manutenção, além de ocuparem pouco espaço.
“Essas gerações são conscientes da importância do verde, mas não têm tempo para ficar cuidando de um jardim ou muitas plantas. É um paisagismo de efeito imediato, ninguém quer ficar esperando a planta crescer. E ela precisa ser muito resistente, pois não há tempo ou mão de obra fixa para manutenção”, diz o paisagista.
Na decoração, a regra é autenticidade. De acordo com o arquiteto Gustavo Scaramella, esses clientes rejeitam tudo que é pasteurizado.
“Eles tendem a ser menos medrosos e fazem transformações mesmo nos imóveis pequenos, buscam soluções com custos menores.” Ele considera que, de modo geral, esse público tem mais coragem e personalidade, sem medo de mudar o espaço novamente num curto período de tempo. “Esse é outro ponto importante, nada é tão eterno, não precisa ser um endereço para sempre. O mercado tem se adaptado a essa ideia de que aquela casa ou apartamento podem ser passageiros. Eles estão montados para a realidade do momento dessas pessoas”, conclui.